O Saber na Poética
Martin Heidegger*
Foto: Reprodução / Martin Heidegger
(1889 – 1976)
De onde as
coisas tem seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo
a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça,
segundo a ordem do tempo. (...)
Ora, aquilo
de onde as coisas se engendram, para lá também devem desaparecer segundo a
necessidade; pois elas se pagam uma às outras castigo e expiação pela sua criminalidade
segundo o tempo fixado. (...)
Mas que
direito possuem os primórdios de apelar a nós que somos provavelmente os mais
tardios frutos da filosofia? Seremos os filhos tardios de uma história que
agora se inclina rapidamente para o seu fim, fim que consuma tudo na ordem cada
vez mais desolada do uniforme? Ou esconde-se, por acaso, na distancia
cronológico histórica da sentença, uma proximidade historial do que nela
não foi dito, mas que se pronuncia em direção ao futuro.
(...) A
sentença do pensar só se deixa traduzir no dialogo do pensar com o que nele é
pronunciado. O pensar, contudo, é poematizar, e não somente no sentido da
poesia e do canto. O pensar do ser é a maneira originária de poematizar.
Somente
nele, antes de tudo, a linguagem se torna linguagem, isto é, atinge sua
essência. O pensar diz o ditado da verdade do ser. O pensar é o dictare
originário. O pensar é o poematizar originário que precede toda a poesia, mas
também o elemento poético da arte, na medida em que esta se torna obra, no seio
do âmbito da linguagem.
Todo o
poematizar, tanto neste sentido mais amplo como no sentido mais restrito do
poético, é, no seu fundo, um pensar. A essência poemática do pensar guarda o
imperar da verdade do ser. Pelo fato de ela ditar enquanto pensa, a tradução do
que a mais antiga sentença do pensar quereria dizer parece necessariamente
violenta.(...)
Ora, a
partir daquilo do qual a geração é para as coisas, também o desaparecer dentro
disto se engendra segundo o necessário; pois eles se dão justiça e penitencia
reciprocamente pela injustiça, segundo a ordem do tempo. As coisas se
desenvolvem e novamente se decompõem.
A linguagem
pode expressar tudo que pensamos claramente. Depende assim de nos atentar para
a ocasião oportuna que nos permite pensar claramente a questão que a sentença
traz à linguagem.
*Martin Heidegger foi um filosofo alemão. É um dos pensadores fundamentais do século XX - ao lado
de Bertrand Russell, Wittgenstein, Adorno e Michel Foucault - quer pela
recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, quer pela
importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural.
Influenciou muitos outros filósofos, dentre eles Jean-Paul Sartre.
*colaboração enviada pelo poeta e parceiro Antonio
de Campos.
Poemas de Fernando Pessoa,
Natanael Lima Jr, Frederico Spencer e Antonio de Campos
O mar
português
Fernando
Pessoa*
Ó mar salgado, quando do teu sal
São
lágrimas de Portugal!
Por
te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos
filhos em vão rezaram!
Quantas
noivas ficaram por casar
Para
que fosses nosso, ó mar!
Valeu
a pena? Tudo vale a pena
Se
a alma não é pequena.
Quem
quer passar além do Bojador
Tem
que passar além da dor.
Deus
ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas
nele é que espelhou o céu.
*Fernando António
Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, nasceu em 13
de junho de 1888 e faleceu em 30 de novembro de 1935. Foi um poeta, filósofo e
escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e
da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.
No
meio do mundo*
Natanael Lima
Jr.
No
universo há verso e reverso
e
eu no meio do mundo
por
exígua sorte.
O
excesso
é
contra partida da morte.
Há
excesso
em
tudo que faço, em tudo
o
que canto.
Eu
canto há séculos:
a
vida não para
e
o canto não para.
No
meio do mundo
há
excesso de vida,
há
excesso de morte.
*In À
espera do último girassol e Outros Poemas, 2011
Nascedouro
Frederico Spencer
Do
nascer
de cada
poema
sobra o
cansaço e suas migalhas:
suas
escamas – o sangue
de aço,
sua carne inoxidável.
II
Do
nascer do poeta
restam
cicatrizes de versos
inacabados,
sonhos de palavras
esquecidas
num mote amordaçado.
Resta o
silêncio
tramando
no silo do papel
a
abolição de seus signos.
*In Abril Sitiado, 2011
Com
essa gente, como ficar de seu lado?
Antonio de
Campos
há tempo de
insultar, e tempo de invadir
ao 54º aniversário da Revolução Cubana do
general Eisenhower
Com
marcas de coturno,
cínicos,
tatuaram as terras do Iraque –
berço
da escrita
com
a qual este poema escrevo agora,
como
cinco* vezes no século passado,
na
esquina a dobrar ainda,
marcaram
as terras de Cuba –
barco
atrevido no golfo do México ancorado.
A
mesma Cuba a quem, depois de insultarem
por
mais de cem anos
de
tantas e das mais variadas maneiras
quantos
são os tipos de cacto e rosa,
não
satisfeitos, fizeram,
entre flores de tabaco y caña,
do
chão brotar
uma
ditadura estranha!
*1906, 1912,
1913, 1917 e 1933
“Ninho Vazio” de Salete Rêgo
Barros*
(Img: Reprodução)
Corro a vista
pelos cômodos arrumados à espera de, a qualquer momento, aquelas caixas se
abrirem e, de dentro delas, saltarem carrinhos, bolas de gude, bonecas, tênis,
cadernos, lápis de cor ou remédios, diários, livros, muitos livros.
Sou guiada por
uma força maior, que me obriga a percorrer aqueles antigos caminhos. Reflito:
caminhos não envelhecem, eles têm a idade de quem passa por eles. Mesmo assim,
continuo a achá-los antigos.
Algo novo,
porém, me conduz por caminhos nunca antes percorridos. Estes são novos e me
renovam e me enchem de uma alegria antiga.
5
de junho de 2013, 23h30min.
Aniversário
de nascimento e encantamento de Irba.
*Salete Rêgo Barros é arquiteta,
parapsicóloga, escritora e editora da Novoestilo Edições do Autor e produtora
cultural executiva da Cultura Nordestina Letras & Artes. Vice-presidente da Associação Nordestina de Trovadores -
ANT, secretária geral da Academia de Letras do Brasil - ALB, coordenadora do
programa O Fantástico na Literatura da União Brasileira de Escritores - UBE.
O Saber na Poética
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:57
Rating:

Muito belo o texto, Salete. "caminhos não envelhecem, eles têm a idade de quem passa por eles. Mesmo assim, continuo a achá-los antigos."
ResponderExcluirGostei muito, querida.
Beijos
Jade
Jade, obrigado pela visita ao nosso sítio. Passarei seu comentário à Salete.
ResponderExcluir