Quando a porca torce o rabo
por
Frederico Spencer*
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Em
alguns casos já nos atrevemos a receitar um remédio para um amigo, na tentativa
de vê-lo mais feliz, como também a fazer poesia, versos românticos na maioria
das vezes, em algum momento da vida. Os bilhetes de amor e a receita, ao menos
de um chá, já nos ajudaram a salvar muitos relacionamentos mostrando assim que
estamos atentos às pessoas mais próximas.
“A
porca torce o rabo”, conforme Affonso Romano de Sant’Anna - tÃtulo de um texto
que o poeta mantém pronto e o envia para aqueles que pedem sua opinião sobre
seus trabalhos – quando, na maioria dos casos, gostando do retorno dos
bilhetinhos de amor, nos dedicamos a escrever poesia mais regularmente e
começamos a guardar, na velha gaveta da cômoda, os nossos sonhos de poeta,
pensando em editá-los num livro em algum dia.
É fácil
ver a quantidade de pessoas que dizem gostar e também que fazem poesia,
inclusive, no meio acadêmico a poesia resiste ao tempo e ressurge como
ferramenta importante na educação de jovens. Recentemente, numa visita a uma
turma de pedagogia vimos o interesse dos alunos em fazer e entender poesia.
Declamações de versos consagrados e também da produção de alguns daqueles
futuros professores nos deixaram atônitos pelo volume de trabalho apresentado.
Sem
fazer nenhuma crÃtica, mas pegando o gancho, referente ao fazer poético, é
preciso entender que poesia é forma e conteúdo. É fácil ver que a grande
maioria dos futuros poetas se contenta com uma só fatia do bolo. Ou trazem um
texto com rimas ortodoxas ou trazem um texto panfletário, em ambos os casos o
conteúdo do poema é sacrificado o que mostra que o futuro poeta ainda é refém
da linguagem, porque não consegue fugir do coloquial.
Poesia,
acima de tudo é imagem, ritmo e o fingimento do poeta, conforme Fernando
Pessoa, para não entregar suas armas na primeira leitura. As metáforas,
colocando as interrogações do leitor nas entrelinhas, são a salvação do poema
como tal, o contrário é conversa de bar, coisa coloquial jogada fora.
Poesia
também se faz através da leitura de poesia e de todos os outros gêneros, além
da leitura da realidade que nos circunda. A arte é reflexo do momento
histórico, social e polÃtico. O poeta é antes de tudo uma antena de seu tempo,
ser agnóstico, que decodifica os sinais recebidos.
*Frederico Spencer é
poeta, sociólogo e psicopedagogo
Um
breve comentário sobre
“As Aventuras de Pedro no PaÃs das Letras”
por
José Fernandes da Silva*
Partindo de uma rápida leitura do livro: As Aventuras de Pedro no PaÃs das Letras, fiz uma reflexão sobre seu rico conteúdo e destaquei algumas ideias para comentar. Esta obra literária também poderia ser as aventuras de muitos brasileirinhos ou ainda, uma autobiografia coletiva, por isso, peço permissão para incluir-me em alguns aspectos.
Partindo de uma rápida leitura do livro: As Aventuras de Pedro no PaÃs das Letras, fiz uma reflexão sobre seu rico conteúdo e destaquei algumas ideias para comentar. Esta obra literária também poderia ser as aventuras de muitos brasileirinhos ou ainda, uma autobiografia coletiva, por isso, peço permissão para incluir-me em alguns aspectos.
No passado ocorria com mais frequência
a cobrança e a vigilância dos pais relacionadas às explicações sobre a origem
de qualquer que fosse o achado, independente do seu valor. Comecei a frequentar
a escola após os 11 anos de idade por iniciativa própria. Quando eu cometia um
erro, era penalizado ouvindo a promessa de que no próximo Janeiro iria para a
escola.
Esse comentário para mim soava como
uma grande ameaça à minha integridade. Fazia-me lembrar das histórias de alguns
alunos que ficavam durante horas de joelhos sobre caroços de milho bem como as
sessões de “bolos” nas mãos com palmatória de madeira de sucupira, somente por
ter respondido de forma errada a uma questão.
O fato de ainda não frequentar,
naquela época a escola ameaçadora, eu era levado a desdenhar daqueles alunos
das primeiras séries: “os cartas do ABC” passantes na minha porta, a caminho da
escola ou dela regressando. Hoje entendo meu comportamento do passado, como
elaboração de uma defesa egoica de bases inconscientes.
Entendo que o medo do novo (o ambiente
escolar) fazia também com que eu me sentisse um destes “Pedros”, trazidos à luz
nesta obra. Observei que os atores que influenciaram a personalidade do Pedro
identificam-se com os principais atores do teatro da vida das pessoas simples
(pai, mãe, irmão, etc.), exceto por ele ser filho único, caracterÃstica incomum
nas famÃlias de baixo poder aquisitivo.
Alguns teóricos postulam que, por
nascermos sem desejos, somos o desejo do outro que, por ser detentor das normas
socioculturais vigentes, indica-nos o caminho a seguir, colocando-nos a serviço
da satisfação dos seus desejos. Neste pacote há, também, as frustrações dos
próprios desejos não realizados por esse “Outro”, onde se inclui os desejos das
realizações dos próprios pais nos filhos (o meu pai, falecido em 1992, era
analfabeto).
No que se refere à escola pública: A
autora mostra algumas falhas arraigadas no sistema educacional, mormente na
escola pública e, sinaliza para mudanças como um desejo de Pedro, mas que no fundo
do questionamento, bastando atentar aos seus comentários sobre a motivação da
sua obra, parece ser um desejo seu, colocado de forma ética e didática, tendo o
Pedro como interlocutor.
Na minha época de alfabetização
(1961), o bullying não tinha a conotação de hoje. No entanto, os “Elvis e
Andrés” de cada escola, que transformam os sonhos da maioria em pesadelos,
parece que sobrevivem ao tempo pela omissão de todos nós. Atualmente são
alarmantes as notÃcias sobre violência nas escolas.
O estigma em relação ao negro, apesar
das mudanças decorrentes da nova legislação, ainda existe de forma velada. Não
são poucos os “zés da silva” que continuam vivendo, nos dias de hoje, um
processo de autoanulação deixando de exercer o seu direito legÃtimo de, pelo
menos, sonhar. Evocar a tia Júlia, para mim serviu para provar que cada um tem
aquela tia que, mesmo sem novas notÃcias, ainda habita nas lembranças do tempo
em que éramos felizes e não sabÃamos.
*José Fernandes da Silva é psicólogo e
capitão da Marinha do Brasil
POEMAS
DE NATANAEL LIMA JR, ANTONIO DE CAMPOS E S. R. TUPPAN
Crepúsculo*
Natanael Lima
Jr

Imagem: Reprodução
Alguém transpõe o silêncio impunemente
refém da oblÃqua tarde em decadência
executa a existência sem piedade
macerando os sonhos ao ar livre?
Alguém nos move
e nos remove ao nada
ao acaso da morte e da vida
sem surpresa e despedida?
Alguém por sorte da exÃgua lida
finge ser luz da visceral noite
e em prantos ilumina o rosto
abominável reflexo que não vê o dia?
Alguém na derradeira caminhada
falseia a memória dos séculos
iludindo pobres pecadores
do orbe morto e rejeitado?
Alguém na trave do olho se inspira
e do reles argueiro nada vê
crê na mão que apedreja
despreza aquela que afaga?
Alguém do sinistro rastro finda
marca o rosto de um narciso morto
posto na lama
sem fama e desfalecido?
Alguém do crepúsculo se completa
e sustenta as mãos vacilantes
que cosem as linhas do tempo
na aurora de uma nova vida?
*do livro “À espera
do último girassol & outros poemas”
Ezequiel em Nova Iorque
Antonio
de Campos

Imagem: Reprodução
No coração do Central Park, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo –
América, bato palmas com furor contra a exploração que praticas,
no descampado dos horizontes & na
capoeira das paisagens,
só usura & lucro enxergas,
teu próximo devoras com as mais
avançadas escavadeiras da Morte
Deste vez aos tipos de violência mais
vis
que teceste à sombra da noz de teu
cérebro doentio,
ao estrangeiro oprimes como prensa que
esmaga o fruto da oliveira
e de mim, um branco em tua mente se fez
lÃrio do esquecimento
Promoveste guerra por óleo e para o
desenterrar,
milhares de vidas enterraste,
grileiro internacional,
invadiste a terra que não era tua,
velho vÃcio de tua alma sem cura
Com arrogância & soberba,
descumpres a tua palavra
e à minha, voltas teus ouvidos de
perfurados tÃmpanos
Por isso, determinei a dança frenética
dum furacão no mar para te punir,
o fiz sair às pressas de minhas mãos
e o soprei em direção à tua costa leste
As ruas de Nova Iorque, tua capital & do Mundo que te serve,
serão assaltadas por ágeis quadrilhas
dágua,
Pânico,
Pavor, Medo & Terror
tomarão conta de ti qual anciã de
bengala
Virão como cavaleiros sobre os quais
lias no Apocalipse
e os destinavas apenas a budistas e
xintoÃstas do outro lado de tua outra costa por ti usurpada e alegavas que assim lhes sucedia
porque não criam em Deus,
quando tua crença em mim está graus
abaixo da gélida crença
de budistas & xintoÃstas, juntos
Cancelarei os shows da Broadway,
a seus cantores a voz secarei na
garganta,
suas luzes servirão como reflexo no
palco vazio das calçadas
Transformarei Times Square
num cenário digno de O Fantasma da Ópera
Turistas vagarão aos milhares
como cardumes de peixes atordoados,
por dois dias as roletas da Bolsa deixarão de converter
sangue, suor & lágrimas em commodities
Retornarás aos tempos escuros das
cavernas
e ouvirás o pio da coruja, em vez do bebop
As buzinas dos carros emudecerei
como os que dormem no Cemitério de Mármore,
em East
Village, até ontem destinado a eventos sociais
do mais frÃvolo & fino pó da cidade
Do poder & arrogância teus, América,
restará a imagem do guindaste dum
arranha-céu
em Manhattan
–
molho de ferro velho retorcido pelo Vento,
pronto a vir abaixo
como tudo o que se ergue com alheio
sofrimento!
outubro 30, 2012
Caminhos misteriosos
S. R. Tuppan

Como uma lâmina
percorro teu pescoço fino
Descendo, perco-me no vale de mel acre
Dizendo-me sim, encontro teu sorriso árido
Volto a perder-me,
então suspiro
Teu sexo sobre meu juÃzo – massacre
Do vinho da paixão
do anjo imberbe
Num giro, sorvo lavas de teu vulcão dorsal
Deixo-me solto em teu fulgor total
Teus seios sugo e o leite é doce
Já teus escarros, faminto absorvo
Tal néctar
bom. Se abelha fosse,
Pousaria em tua flor. Mas, sendo corvo,
Como teus milhos e a ti devolvo
Em mijo e vômito: amor, me regozijo!
Quando a porca torce o rabo
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:43
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Muito bom seu poemaTomei a liberdade de publicar no meu blog www.sertaodesencantado,blogspot.com o poema Alambedeira e a divulgação do livro. Caso os autoras não concordem é só avisar que retiro a postagem Abçs
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