AS VIAGENS DE FREDERICO SPENCER
Postado por DCP em 24|04|2022
Escrever para mim é vital, é como respirar. O ser humano precisa se expressar para poder se colocar no mundo. O homem é um ser político. A escrita para mim é um ato político, de resistência.
O poeta Frederico Spencer parte agora para uma nova
viagem no campo da ficção infantil, com o seu Arthur, o geladinho,
(Flamingo Edições, 2022). É uma emocionante aventura de um pequeno iceberg
que vive envolto em histórias de reis e heróis contadas por sua mãe, que luta
para ele não degelar. Mas a separação acaba acontecendo depois de um grande
maremoto. Então, sozinho, acaba descobrindo, através de amigos marinhos
inusitados, as causas do aquecimento global. As aventuras de Arthur é
repleta de dragões de lata que cospem fogo, os estranhos humanos e um homem de
papel que poderia ajuda-los a combater o calor na terra. Depois de muitas
discussões Arthur e seus amigos, decidem partir e salvar a Antártica,
cheios de vontades e sonhos.
Capa:
Divulgação
Frederico Spencer é natural da cidade do Recife, sociólogo com
pós-graduação em psicopedagogia, professor, produtor cultural, poeta e
contista. Como poeta, foi premiado pela Academia Pernambucana de Letras no ano
de 1985, com o Prêmio Gervásio Fioravanti. A partir daí dedicou-se à escrita
literária. Tem oito livros publicados, sendo seis no gênero poesia: Portal
do Tempo (Edições Bagaço), Quadrantes Urbanos (Livrorápido), Abril
Sitiado (Edições Bagaço), Linha de Risco em parceria com o poeta
Natanael Lima (Edições Bagaço), À Luz de um sol impuro (FS Editora), Poemas
do fim do mundo (FS Editora) e O Olho do Rinoceronte (Edições
Tarcísio Pereira), no gênero conto e agora Arthur, o geladinho, gênero
infantojuvenil (Edições Flamingo). Participou de várias antologias nacionais e
internacionais, também com várias participações em feiras e eventos literários.
É também membro fundador da Academia de Letras de Jaboatão dos Guararapes.
DCP – Que o inspirou a produzir essa narrativa de
ficção para o público infantil?
FS - Acredito que as artes em geral não têm como
finalidade única o entretenimento, posto que toda forma artística tem como
objetivo, trazer à tona questões que envolvem a sociedade como um todo. Penso
eu que a arte tem uma função social e hoje as discussões a respeito do clima se
tornaram primordiais para a nossa sobrevivência neste planeta e, nada melhor do
que tratar destes temas com as crianças que, livres das ideologias que invadem
as cabeças dos mais velhos, podem criar uma consciência mais ampla sobre o tema.
Temos que ter esperança num futuro melhor.
DCP – Depois de ter lançado vários livros de poemas (6)
e um de conto voltados para o público adulto, como foi essa experiência de
mergulhar na ficção infantil?
FS - Escrever é sempre um desafio. Escrever histórias
para criança começou quando a minha esposa, que também escreve para o público
infantil, sugeriu que eu poderia escrever textos para eles. Atendendo a sua
sugestão, parti então para o conto adulto, numa tentativa de experimentos nesta
área, saiu o livro: O olho do rinoceronte. Escrever conto é muito parecido com
escrever poesia, já que utilizamos as figuras de linguagem como recurso, o
problema é esticar a história e o poema é síntese. Aproveitando os ensinamentos
da pós-graduação em psicopedagogia, aprendi muito sobre o mundo infantil, suas
linguagens e principalmente como elas se relacionam com o mundo lúdico.
Escrever a história de Arthur, partiu também da minha indignação com a
velocidade que está acontecendo o derretimento das geleiras e o que isso pode
influenciar nas nossas vidas.
DCP – O que os personagens criados nesta ficção tentam
mostrar para os jovens leitores?
FS - A história de Arthur traz como tema as atuais
condições climáticas e o fio condutor da narrativa se constrói em torno de como
um pequeno iceberg, ao se ver longe de sua mãe após uma tempestade, é lançado
ao mar e passa então a receber o devido apoio de alguns amigos antigos e outros
novos, que, iguais a ele estão à deriva no mar. Depois de uma longa conversa,
descobrem que a saída está na união de todos em prol do restabelecimento das
condições favoráveis para retornarem ao seu antigo lar. A moral da história
fala sobre união.
DCP – O seu Arthur foi concebido a partir das suas viagens
(andanças) literárias ou é um herói real, um militante das causas humanitárias
e globais?
FS - A ficção, seja ela prosa ou poesia,
desenvolve-se através de histórias contadas pelos personagens, sejam eles, o
próprio autor num discurso “autoritário” ou através da discussão de vários. O
objetivo é levar ao leitor um belo desenrolar ficcional e todos esses
personagens, juntamente com suas histórias, partem do papel e da caneta, ou
como é no caso de hoje, do computador para a vida real. Essa é a mágica da
literatura e das artes em geral. Arthur e seus amigos partem desse processo -
de uma tentativa de colocar no foco das pessoas um problema tão sério quanto
este - do degelo das geleiras, colocado de forma lúdica, para chamar a atenção
de alguém. Dessa forma, Arthur passa a se tornar um herói real - o sonho de
todo escritor - que personagens criados façam parte da vida das pessoas.
DCP – Em tantos gêneros literários que você escreve,
qual o que lhe agrada mais? Onde a poesia entra nisso?
FS - No meu caso, a poesia é a matriz e como disse:
escrever é um desafio e, todo aquele que se propõe a ter a escrita como forma
de expressão deve trabalhar em mente essa questão - do autodesafio enquanto
ferramenta de renovação, caso contrário, fica envolto num processo de repetição
e isso com certeza o levará ao desinteresse daquilo que lhe é tão importante.
Lutei no poema para criar uma técnica para sua escrita, após alcançá-la foi uma
luta para desconstruí-la e assim ir sobrevivendo - é quase uma luta corporal. Devo
seguir em frente com os contos, a literatura infantil e também, sigo em direção
ao romance - a briga é grande, mas as vitórias são saborosas.
DCP – Os indicadores que avaliam a realidade da leitura
no país, não são animadores. Na sua opinião qual o maior desafio na formação de
leitores?
FS - É fato que existe uma dificuldade para aquisição
do livro por grande parte de pessoas no país. Isso é um problema sério. Vários
fatores contribuem. Porém, dois deles
acho de extrema importância: a família e a escola, nesse grau de importância.
Em se tratando do livro de prosa, os indicadores são ruins, no caso da poesia é
pior ainda. Referente à leitura e à escrita como um todo, na pandemia elas
cresceram, com a ajuda das redes sociais. A venda de livros também cresceu com
o isolamento social. Acho que o grande impulso para a formação de leitores
passa pela família e depois pela escola. Nesses cenários é que deve ser
fomentado o hábito da leitura, mas não é simplesmente se ofertando um livro
para alguém que isso vai acontecer como uma mágica, antes deve-se falar sobre a
importância do autor, da obra e seu contexto sócio-histórico e por último,
buscando o gosto de cada um.
DCP – O que pode ser feito para melhorar a leitura no
Brasil? Qual o papel da Escola nesse contexto?
FS - Primeiramente, reconhecendo-se o valor do livro
como ferramenta de aprendizado e, em se tratando do aprendizado formal - é
peça-chave tanto para a área técnica quanto para a formação humanista do ser.
Com certeza, quando falamos sobre o lado formal do conhecimento, a escola é a
fonte primordial. Quando falamos em escola, estamos falando de professores,
política educacional e também dos equipamentos que a compõe: prédios, salas,
refeitórios, bibliotecas... Se formos analisar um por um desses itens, teremos
muito o que tratar e não teríamos tanto espaço assim. Portanto, devemos focar
no professor - este que precisa de treinamento, salários que atendam suas
necessidades e enfim, tempo para ler e pensar. Acho também que poderíamos
diminuir o preço do livro - parece que ele sempre foi visto como artigo de luxo
no país! Até hoje não entendo o valor dos e-books que, nas gôndolas se
equiparam ao impresso, mas este, consome papel, tinta, máquina de impressão,
laminação, acabamento, transporte e armazenagem, muito diferente do digital e
os preços são iguais. Como assim?
DCP – Como você avalia a produção de literatura para o
público infantil e infantojuvenil no Brasil hoje?
FS - Acho muito bem movimentado, porque temos um
mercado enorme para ser atendido. Nos primeiros anos de escola, a criança tem
contato constante com o livro, o lúdico é peça importante para mostrar aos
meninos e meninas como funciona o mundo adulto do qual farão parte. Para se ter
uma ideia, é só fazer uma busca na internet, para vermos a quantidade de
editoras que trabalham com o livro infantil, muitas delas só trabalham com esse
tipo de literatura. Trabalhar com a literatura infantil é interessante também,
porque um personagem pode se transformar em filmes, brinquedos, camisetas e
etc. - um mercado muito promissor.
DCP – Após tantos anos, o que o motiva a continuar a
escrever?
FS - Escrever para mim é vital, é como respirar. O
ser humano precisa se expressar para poder se colocar no mundo. O homem é um
ser político. A escrita para mim é um ato político, de resistência. A meu ver,
a literatura não deve se transformar em panfleto, mas em algo que trate sobre o
humano, com todas as suas tragédias e vitórias, seus movimentos no trajeto da
nossa passagem no planeta, isso é o que importa. Se aquilo que escrevemos
impacta a vida de alguém - alcançamos o nirvana - se não, é porque devemos
mergulhar mais fundo em nossas vidas e olhar mais atentamente para o outro.
Depois do mergulho, respirar e ser.
DCP – Como você observa a importância da ilustração no
livro destinado ao leitor infantil e/ou infantojuvenil? As ideias para os
desenhos são concomitantes à elaboração do texto?
FS - As ilustrações são importantes, mas, deve
atender partes específicas de leitores - para crianças com até cinco anos são
importantes, a partir daí, não precisa ser totalmente ilustrado, precisa ter
uma boa capa e um texto interessante, que prenda a atenção destes. As
ilustrações tanto servem como meio de contar uma história (leitura das
imagens), como também de tornar o livro mais atraente. O bom ilustrador é
aquele que lê o original e tenta recriar a história a partir de suas
percepções, porém, todo o processo criativo deve ser montado pelos dois - autor
e ilustrador, com o objetivo de tornar o livro mais consistente para a leitura.
A capa e o título são peças-chave para a boa vendagem do livro, mas aí, pode
entrar um outro profissional, que é o capista, profissional que se dedica
especificamente à criação de capa.
DCP – O DOMINGO COM POESIA deseja a você muito sucesso
nesta sua nova empreitada literária. Fica aqui o espaço para as suas
considerações finais e mensagem aos leitores do site espalhados por todo o
país.
FS - Espero que Arthur, especificamente e outros que
já estão a caminho, consigam de alguma forma seduzir o leitor para as questões
que ele traz enquanto preocupações. As condições climáticas atuais requerem um
olhar mais atento de todos nós, que começa com nossos desejos de consumo,
descarte do lixo e nossa produção industrial - o planeta terra ainda é nossa
casa, por enquanto - o que virá depois é uma incógnita.
Aproveito aqui a oportunidade e dou uma notícia de
primeira mão: o lançamento do Arthur, acontecerá no dia 06 de junho às 16hs na
Livraria Leitura do Shopping Center Recife. Espero todos lá.
Agradeço aqui ao editor e poeta Natanael Lima Jr.
pelo espaço onde pudemos falar um pouco sobre nosso Arthur, o geladinho.
Forte abraço.
FICHA TÉCNICA:
© 2022, Frederico Spencer e Flamingo Edições
E-mail: geral@flamingoedicoes.com
Título: Arthur, o geladinho
Editor: Vitória Scritori
Coordenador Editorial: Vasco Duarte
Capa: Janaína Galhardo
Composição Gráfica: Manuela Duarte
Revisão: Luiz Henrique Moreira Soares
1.ª Edição: Abril, 2022
ISBN: 978-989-37-3144-4 | Depósito Legal n.º
495694/22
Impressão e acabamento: Atlântico Print flamingo
edições é uma Editora do Grupo Editorial Atlântico.

Quero agradecer ao amigo Natanel pelo espaço concedido para poder falar um pouco sobre Arthur e também discorrer sobre alguns assuntos inerentes à escrita. Como disse na entrevista: escrever é um desafio, mas também outro se faz de tamanha monta que é o da divulgação. Divulgar literatura é um trabalho de resistência, qual o de escrever, e o DCP tornou-se ferramenta especial para tanto. Por sete anos acompanhei o trabalho de Natanel e sei o quanto custa colocar todos os domingos uma edição novinha em folha nas telinhas, tendo como marca a abertura de um espaço democrático para o debate literário em nossa cidade.
ResponderExcluirEspaço aberto, sempre. parabéns pela entrevista e sucesso para o seu Arthur, o geladinho.
ResponderExcluirParabéns pela magnitude entrevista. Pelas perguntas , instigantes e inteligentes e pelas respostas que demonstram o domínio do assunto pelo entrevistado. José Luiz Mélo
ResponderExcluirMérito ao entrevistado.
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