ENTREVISTA COM O POETA RECIFENSE VALMIR JORDÃO
Postado por DCP em 26|06|2022
*Entrevista
concedida ao editor do site Natanael Lima Jr.
A produção literária no estado de Pernambuco sempre foi intensa, pujante, qualificada e espontânea. No litoral, nas zonas da mata, no agreste e nos sertões a literatura existe e resiste com boas surpresas e também os autores previsíveis como sempre foi desde priscas eras.
Valmir Jordão é poeta, compositor e performer. Nasceu no
Recife em 1961, participou do Movimento de Escritores Independentes no início
dos anos 80. Apresenta-se nas praças, teatros, escolas, sindicatos, onde o povo
estiver. Participa de saraus, oficinas e ventos culturais em Pernambuco e em
outros estados. Publicou vários livros, entre eles: Sobre Vivências, Ed.
Pirata (1982), Anartistas in nuliverso – 1985 Antípoda – Ed.
Escalafobética – 1990, Poe Mas, Ed. Escalafobética (1999), Hai Kaindo
na Real – 2008, Poemas Diversos – 2013, Poemas Reunidos –
2014 e Poemas Recifenses, Ed. Escalafobética (2019).
O DCP traz este importante poeta vanguardista
e ativista cultural da década de 1980. Nesta entrevista Valmir solta o verbo e fala
com propriedade sobre literatura, poesia, política, movimentos culturais,
produção literária pernambucana, prêmios e concursos literários, entre outras
questões. Confira aqui!
DOMINGO
COM POESIA – Quem é Valmir Jordão?
VALMIR
JORDÃO – Valmir Jordão, poeta recifense, é um
operário da arte em construção permanente. Oriundo de uma família de
trabalhadores metalúrgicos, trabalhou por muito tempo no comércio, construção
civil, gráfica, e começou como gazeteiro do Jornal Fluminense em Angra dos Reis
- RJ no ano de 1975. Participou das CEB's e da fundação no Recife da CUT e
do Partido dos Trabalhadores. Em 1982 publicou o seu primeiro livro de poesias:
Sobre Vivência - Ed. Pirata.
DCP – O que representou para você os movimentos culturais da década de 1980?
VJ - Os movimentos culturais de 70 e 80, representam para mim, a tomada da
consciência libertária e de classes. No começo dos anos 80, era muito forte a
influência dos poetas da Geração 65 no Recife. tive a honra de conhecer e
conviver um pouco com os poetas Alberto da Cunha Melo, Jaci Bezerra, Arnaldo
Tobias, Celso Mesquita, Lucila Nogueira, etc. Porém, através da Geração
Mimeógrafo, percebi que era possível produzir e divulgar os meus trabalhos de
forma independente e também comecei a ler com todo prazer, os poetas que me
falavam ao coração: Gregório de Matos, Patativa do Assaré, Edgar Allan
Poe, Baudelaire, Rimbaud, Walt Whitman, William Blake, Cecília
Meireles, Isabel Câmara, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Carlos
Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Haroldo de Campos,
Décio Pignatari, João Cabral de Melo Neto e Alberto da Cunha Melo, entre
outros.
DCP – Você é poeta, compositor, produtor, ativista cultural, performance e
autor de vários livros. Faria tudo de novo ou deixaria para trás alguns
momentos?
VJ - Sim, faria tudo de novo com a mesma intensidade e disposição para
enfrentar as adversidades em questão, pois sempre "haverá uma pedra
no meio do caminho."
DCP – Como é o
Recife visto da periferia e vice-versa?
VJ - Reciferido
Oh minha bela, inefável
e inescrupulosa Veneza.
Dos mercados e mascates
hoje perseguidos porque
pobres enfeiam a cidade.
E, a especulação imobiliária
projeta-se sobre a ambição
dos farisaicos governantes.
Teu podre hálito, reflete-se
nos fétidos discursos dos
infectos poderes e na
sua gênese reacionária.
Cidade invadida, cidadãos excluídos
de suas benesses e riquezas.
Das bacanais nos carnavais
regadas no erário, bancada
pelos otários e dadivadas
aos condes joões, aos
barões sebosos e aos
séquitos famintos.
Salve Recife!
Cidade madrasta
prostituta dos vampiros
de todas as dicções e origens.
Meu Capibaribe, Capiberibe!
Descapibaribado pela
indiferença dos gestores
e do perjúrio oficial...
DCP – A literatura marginal ou periférica, é ainda a arte dos remam contra a
maré?
VJ - Sim, pois a realidade do povo trabalhador que vive nas periferias, nada tem haver com a cidade cartão-postal para os turistas, com os apaniguados, os bajuladores e mandaletes dos políticos oligarcas e dos oportunistas que apresentam-se como os salvadores da pátria. A cada biênio eleitoral, que é um grande erro para os eleitores e um paraíso para os eleitos. Pois a eleição deve ser geral, municipal, estadual e federal e a cada 4 anos. Para que os eleitos mostrem serviço e acabar com a farra eleitoral desses simbióticos desmondontídeos.
DCP – Você integrou o Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco em
um período profundamente marcado pela repressão, censura e perseguição.
Músicos, poetas, escritores, cineastas, atores, artistas plásticos, entre
outros, lutaram contra a opressão. Cada contribuía com o que melhor sabia
fazer; produzindo, questionando os fatos e informando a sociedade, apesar da
censura. Que balanço você faria desse momento e o atual?
VJ - De 1984 até 2012, mesmo com erros e acertos, o país foi aos poucos se
reorganizando e a sociedade civil, através dos movimentos sociais e culturais, foi
impondo um novo ritmo em suas demandas e reivindicações nos vários segmentos da
vida social. Após a descoberta do pré-sal e quando a ex-presidenta Dilma
Roussef falou que iria aplicar parte dos lucros dessa riqueza natural na
educação, saúde e cultura, contrariou os interesses dos empresários predadores,
da imprensa e os da burguesia nacional que junto aos EUA, orquestraram uma
campanha sórdida, difamatória, caluniosa e infame contra a presidenta Dilma
Roussef e o seu partido. Em 2013 surgem os Black Block, os
revolucionários da web e toda a articulação para o golpe, o impeachment, a
posse dos golpistas e a ascensão do fascismo, da extrema direita a presidência
da república.
DCP – Vamos falar aqui e agora sobre literatura e escritores: como você
avalia a produção literária hoje no estado?
VJ - A produção literária no estado de Pernambuco sempre foi intensa,
pujante, qualificada e espontânea. No litoral, nas zonas da mata, no agreste e
nos sertões a literatura existe e resiste com boas surpresas e também os
autores previsíveis como sempre foi desde priscas eras.
DCP – O Brasil respeita seus autores?
VJ - Em relação ao respeito aos escritores brasileiros, é bom lembrar que a
Academia Brasileira de Letras, hoje tão decantada, impediu, barrou, obstaculou a
entrada nos seus quadros do genial Lima Barreto, da magnífica poeta Cecília
Meireles e do grandioso poeta Mário Quintana por razões mesquinhas, tacanhas,
reacionárias, racistas e classistas. Hoje em dia basta ter uma bicicleta para
ter acesso e frequentar as academias.
DCP – Para que serve a literatura na sua opinião?
VJ
- A literatura serve para educar, refletir, entreter, relaxar, denunciar e
expor as hipocrisias e mazelas humanas e sociais.
DCP
– Qual a função social que exerce a poesia e o poeta?
VJ
- A função social da poesia e do poeta é servir como ponte, jamais como muro
entre as pessoas.
DCP
– Na sua opinião, para que serve os prêmios e concursos literários?
VJ
- Os prêmios e concursos literários são importantes como estímulos à produção
artística e ao reconhecimento dos escritores a nível municipal, estadual,
federal e internacional. Em maio deste ano, participei da I Copa Poesia
Portugal, realizada pela Revista Cronópolis - Portugal, ficando em segundo
lugar.
DCP
– Você já realizou diversas oficinas literárias, não é mesmo? O que você
poderia nos dizer sobre o interesse pela leitura e escrita dos alunos?
VJ
- Sobre as oficinas de iniciação a leitura e a escrita, existe um grande
público sedento por uma oportunidade, elas incitam para que as pessoas leiam,
reflitam sobre o que leem e escrevam ou não, mas, são muito importantes para
ajudar na apreciação e degustação das
obras literárias.
DCP
– Qual a importância do surgimento de plataformas, blogs e sites de conteúdos
culturais e literários?
VJ
- A rede social na web, através dos sites, plataformas e blogs também são de
suma importância para o acesso à leitura e aos escritores e poetas. É mais uma
ferramenta útil para a divulgação das obras e dos seus autores, além da
interação entre o público e os autores.
DCP
– Fica aqui o espaço para as suas considerações finais e sua mensagem aos
nossos seguidores.
VJ
- Aproveite o dia! -
Acesse,
deguste e divulgue
o
Domingo Com Poesia.
Por fim, Faço questão de esclarecer ao público em
geral que o nosso poeta Miró da Muribeca encontra-se em um momento muito
difícil, sofreu um câncer na próstata que virou metástase atingindo os ossos do
quadril e está com dificuldades para
ficar de pé e andar. Ele se encontra em tratamento em uma clínica particular e
necessita do nosso apoio e ajuda financeira para custear as despesas com
alimentação, cuidadores e medicamentos.
*João Flávio Cordeiro da Silva (Miró) -
PIX: 341 126 264 – 87 (CPF)
*As
opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do site Domingo
com Poesia (DCP).
Parabéns poeta Valmir Jordão, seu trabalho e luta, engrandece a no literatura e causa. Precisamos dessa ponte que você nos proporciona durante todo esse tempo, da sua batalha poetica, diária. Um grande abraço. Vamos ajudar o nosso poeta Miró!
ResponderExcluirAgradeço a sua gentileza e generosidade. Vambora!
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