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JORGE LOPES & VALMIR JORDÃO – FRENTE A FRENTE

 Postado por DCP em 20/09/2021









Jorge Lopes & Valmir Jordão I Foto: Reprodução
Arte: DCP









O DCP apresenta no “Frente a Frente” os poetas recifenses Jorge Lopes e Valmir Jordão, integrantes do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco surgido no Recife, na década de 1980. A poesia que os une é intensa, existe e é completa. São poetas viscerais, marginais, urbanos, radicais no seu fazer poético. O Recife pulsa nos poemas e nas veias desses dois intensos poetas.

 

Jorge Lopes é poeta, artista plástico, compositor e produtor cultural. Recifense do bairro do Cordeiro. Durante as décadas de 80 e 90 produziu eventos culturais e ilustrou diversas edições. Tem vários livretos publicados, entre eles: Dose Dupla (com Francisco Espinhara) e Curta Poema (com Celso Mesquita). Editou o fanzine “Balaio de Gato”, e participou do CD "Vários poemas vários - 25 poetas contemporâneos" e dos filmes "Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire" e "Poeta urbano". Em 2020 a Cepe Editora lançou o seu “Poemas Reunidos”.  

 

Valmir Jordão é poeta, compositor e performer. Nasceu no Recife em 1961, participou do Movimento de Escritores Independentes no início dos anos 80. Apresenta-se nas praças, teatros, escolas, sindicatos, onde o povo estiver. Participa de saraus, oficinas e ventos culturais em Pernambuco e em outros estados. Publicou vários livros, entre eles: Sobre Vivências, Ed. Pirata (1982), Anartistas in nuliverso – 1985 Antípoda – Ed. Escalafobética – 1990, Poe Mas, Ed. Escalafobética (1999), Hai Kaindo na Real – 2008, Poemas Diversos – 2013, Poemas Reunidos – 2014 e Poemas Recifenses, Ed. Escalafobética (2019). 





JORGE LOPES & VALMIR JORDÃO – FRENTE A FRENTE




Poema nacional

Jorge Lopes

 

Poderia dizer

que o poema tem pressa

e acalenta em mim

essa inquietude,

fervendo minhas tripas.

Poderia dizer

que o poema tem fome,

espetada nos olhos da balconista.

Mas o poema é pouco,

para alcançar os homens

adormecidos em seus sonhos de medo;

o poema é pouco,

contra os militares e suas armas mortais,

contra a igreja e seu deus profano,

contra os sórdidos capitalistas

e latifundiários desse meu país.

O poema é muito pouco,

mastigando essa esperança brasileira.

 

 

 

Reciferido*

Valmir Jordão

 

Oh! Minha bela, inefável

e  inescrupulosa veneza.

Dos mercados e mascates

Hoje perseguidos porque

pobres enfeiam a cidade.

E, a especulação imobiliária

projeta-se sobre a ambição

dos farisaicos governantes.

Teu podre hálito, reflete-se

nos fétidos discursos dos

infectos poderes, e na

sua gênese reacionária.

Cidade invadida, cidadãos excluídos

de suas  benesses e riquezas.

Das bacanais nos carnavais

regadas no erário, bancada

pelos otários e, dadivadas

aos condes joões, aos

barões sebosos e aos

séquitos famintos.

Salve Recife! Cidade madrasta

prostituta dos vampiros

de todas as dicções e origens.

Meu Capibaribe, Capiberibe!

Descapibaribado pela

indiferença dos gestores

e do perjúrio oficial...

 

*do Poemas diversos, 2013

 

 

 

Pai

Jorge Lopes

 

Tudo que sei

É a certeza dessas paredes solitárias

que guardam histórias distantes de mim.

Tudo que sei

é o gosto amargo da ausência

no fundo da noite.

Eu sei.

Nunca soube do teu sorriso

nem dos teus braços queimados de sol.

Nunca soube dos campos verdes

nem das canções do vento e dos pássaros

dos teus sonhos.

Eu posso apenas olhar as velhas paredes.

Mortas.

 

 

 

Insurreição pernambucana*

Valmir Jordão

 

um invasor, o outro expulsa

onde índios, negros e mestiços

aos canhões servem de bucha.

 

*extraído do livro Poemas Recifenses, 2019

 

 

 

Complexo de Édipo

Jorge Lopes

 

De madrugada

Ela fica rodopiando

Pelos cômodos da casa

Com os cabelos em desalinho

E os olhos sonolentos

Ela canta uma canção de ninar

E sua voz de passarinho

Atravessa os meus ouvidos

Feito uma bala sibilante

Depois

Ela me dá um beijo e vai dormir

E eu fico pensando

Em mandar todo o quarteirão

                        pelos ares

 

 

 

Das sombras e Solares*

Valmir Jordão

 

Amanhecer no êxtase de um bode

Depois de um pós-monumental porre

E uma irritante voz

A desejar bom dia

Ignorando a tremenda mancada

Traduzida em mal-estar e epilepsia

Notícias de TV, cenas estúpidas

De baixarias e mediocridades

E no planalto,

Vários planos a nos arrebentar

Tráfico de drogas, de influências e

cumplicidade

Estado-positivo, governo-negativo

De um postal apresentando as capitanias

hereditárias

Que ainda cultivam

Essa wave-norte-américa-otária!

E cai a tarde, réus, vítimas em juízos

A deformar toda dignidade

E você sonha com a felicidade

Dizia o triste que a tristeza é bela

E o solitário: solidão é fera

Entre mendigos, shoppings e absurdos

Produz-se tudo com arbitrariedade

Consolidando o corporativismo

E as consequências são coincidências

A despistar

E as evidências ecoam na noite

Um escândalo, um homicídio

A distrair os corações urbanos

E a destruir a ilusão dos vândalos.

Depois cigarro, good night, um tapa

Noturna láctea birinaite atômico

Nas avenidas cruéis, embates anacrônicos

Pandemia rima com covid, cólera, malária

E consumismo sub-reptício

Legitimando o desejo canalha

Que ainda cultiva

Essa wave-norte-américa-otária.


*poema extraído da fanpage do autor: https://www.facebook.com/Poemas-recifenses-2326379324299348/








JORGE LOPES & VALMIR JORDÃO – FRENTE A FRENTE JORGE LOPES & VALMIR JORDÃO – FRENTE A FRENTE Reviewed by Natanael Lima Jr on 00:49 Rating: 5

5 comentários

  1. Grato por sua gentileza e generosidade nesta oportunidade, muito obrigado.
    Saúde e luta. 🌻🌻🌻

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  2. Arretado! Arretados os dois poetas. O Domingo com Poesia de parabéns.

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  3. Arretado! Arretados os dois poetas. Aqui, o Recife volta a falar para o mundo. Parabéns, Domingo com Poesia.

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  4. Muito massa ,os dois grandes poeta e guerreiros do meu recife para o mundo. Parabéns.

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