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FLÁVIO CHAVES: ENTRE O TEMPO E O SONHO

 Postado por DCP em 18/04/2021






Flávio Chaves é escritor e da APL I Foto: Reprodução





Jornalista, 3249 DRT/PE, administrador de empresas, consultor de comunicação e marketing, ensaísta, crítico literário, escritor e poeta. Flávio Chaves é pernambucano, nascido em Carpina, município localizado à 42 km da cidade do Recife, com uma infância tradicionalmente interiorana, completou seus estudos primários e secundários, passando pelo Seminário Salesiano daquele município.

 

Iniciou sua vida literária aos 25 anos, em 1983, quando publicou o livro de poesia Digitais de um Coração. A partir daí, vários de seus trabalhos passaram a ser publicados regularmente em jornais e revistas do País.

 

Com o objetivo de difundir e incentivar a preservação dos bens culturais do Estado de Pernambuco, o poeta carpinense, com o apoio da FUNDARPE e UNICAP, idealizou e organizou a I Caminhada Poética Brasileira, movimento que reuniu pelas ruas históricas do Recife os maiores nomes da poesia nacional e que perduraria por mais dois anos, em sua II e III versão.

 

É filiado à União Brasileira de Escritores – UBE – Secção Pernambuco, onde exerceu o cargo de presidente por 8 anos, trazendo inúmeros benefícios a esta entidade durante sua gestão, desde a construção de sua sede até criação de bibliotecas e instalação da “Estação Cultura”, entre vários eventos, em nível local e nacional, que vieram dinamizar a União Brasileira de Escritores. Flávio Chaves, ainda durante sua gestão, logrou a cessão definitiva da Sede da UBE/PE pela Prefeitura da Cidade do Recife.

 

Através de suas publicações, Flávio Chaves participou de inúmeros projetos, como o “Nordestes”, com o livro Território da Lembrança em 1999.

 

Ex-presidente da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco) onde vem demonstrando seu habitual traço inovador e dinamizador, desempenhando um papel construtivo nesta instituição.

 

O escritor pertence a Academia Pernambucana de Letras, onde ocupa a Cadeira 13, Patrono Paula Batista, onde tomou posse no dia 18 de novembro de 1998 e foi saudado pela Acadêmica Maria do Carmo Barreto Campello de Melo.




CINCO POEMAS DE FLÁVIO CHAVES






ENTRE O TEMPO E O SONHO

 

 

                                    chega o êxtase

elaborado de lembranças intermitentes

deixando escorrer no mosaico do peito

        um grito de ferro e chama estridente

a desenhar com o carvão do que sobrou de mim

                                      um novo enredo da dor soterrado

Aqui, o dia sem notícias é alvoroço,

é o pleno fogo incandescente da brasa viva,

é o cenário lúgubre de um dia sem cor.

E esta canção

                      abre-se na partitura estremecida e acuada

pois a esperança dançava somente em minha infância

                               ansiando o hálito do dia aceso

a acender nos olhos de uma procissão inflamada.

Escrevendo um poema anoitecido

os meus olhos traçam uma porta sumida e funda

na viagem que carrega o meu sonho naufragado.

O sonho mais distante dilata minhas veias

                              e o meu sangue pulsa o frio e o entardecer,

assim, arde essa ânsia nas ruas mais distantes,

onde nasce no peito um tronco aceso

                      vem com ele desgovernado e incontido

o último poema extraído

                                 de uma coleção de nódoas do tempo.

Toma esse último gesto

                    de quem não tem mais caminho,

toma essa distância

                    desgovernada no meu corpo.

Mas eu não choro esse tempo abstrato:

eu tenho silhuetas de luas no espelho

e um bosque de sombras preso em minha carne.

Eu tenho

          um labirinto de dores ossificadas

                    na minha alucinação

         que me arde como um transe.




CANTO DE AMOR DISTANTE

 

 

 O que me arrasta a ti

é o espinho que viaja

                                         de tua distância

chega ao meu corpo

com beleza de cristal selvagem

 

ou travesseiro-violino que embala o sono,

navega toda a alma

                                           e expulsa os dias.

 

Movem-se colinas, iluminam-se trevas,

alargam-se rios, sobem-se serras,

que ligar as almas

é um tempo que nunca foi

quando a porta do meu abraço

é a entrada de tua saída.

 

 Teu jeito livre, espontânea vida,

olhar sereno, imagem de despedida

a mover o pranto e alojar-se o frio

 

Teu corpo,

                                         longa ausência inútil percorrida,

assim... que de mim a ti

só o adeus vive a ligar.




O SONHO ACESO NAS LEMBRANÇAS

 

 

Embora em todas as solenidades do mundo

as lembranças sejam minhas

eu sou sargaço inquieto

nas cores inermes do mar

ou um cardápio de fúria

servido aos aflitos

estilhaço-me

                                         entre ansiedade e buscas

ninguém reflui ao íntimo de minha caverna

                                         a desenterrar meu corpo

desse arbitrário rochedo

ninguém pousa sobre minha alma e meus movimentos

a descavar na profundeza do búzio que sou

o telúrico e a penumbra que me sufocam

assim eu me dilato em sombra

e me sobra um momento - mar.

                                         que contrai espera e sal

o leme de minha voz

não navega ao porto das canções

e ao olvidar é ungido de esquecimento

o roteiro dos bentos não me traz à terra

eu ignoro o mar que me despreza

o naufrágio é o tempo que me espera.

Eu sou uma noite de outubro

                                         com uma sombra projetada nos olhos.




A DIMENSÃO SUBMERSA DA BUSCA

 

 

Disponho-me no mais profundo do tempo

                                                   numa espiral onírica:

meu grito é minha fúria

(em mim, linguagem triste, sem tradução)

então, faço-me uma sonolenta lembrança

                                  guardada no armário embutido da memória

a inquieta-me a parede triste do pensamento

                                  onde exponho meu corpo sem gestos e encontros.

Rogo ao claro

como revelar os olhos na imagem do asilo

                      para despertar a paisagem sonâmbula do que sinto

como quem nasce na sombra

                             e um circuito lhe desencadeia de repente,

assim, canto essa fúria estendida nas faíscas

para cegar o destino

                            que escurece e ânsia.

Só este canto de lavas

                             poderá redesenhar o caminho

                                                   que me aguarda,

abrasado com os ventos

          na canção ardente de girassol.




A DISTÂNCIA ALOJADA NA PELE

 

 

Cai a tristeza no tapete mudo da casa

     flutua inerme insônia tensa

         na margem da fibra que rodopia o reino

a respirar suplício no cadafalso da viagem

         atravessando bosque de ausência exercitada.

Assim

       a vertigem expõe a queda das sílabas

           e o espaço ameaça a solidão da fala

que a demolição do horizonte dormente

      atira instantâneo o idioma no deserto

onde o olhar diluído que carrega

      desenha sombra na retina da miragem

                 que decifra vulto construído na visagem

pois transita em mágoa

                a poeira inquieta da aragem

e a linguagem subterrânea desmonta-se desgarrada.









FLÁVIO CHAVES: ENTRE O TEMPO E O SONHO FLÁVIO CHAVES: ENTRE O TEMPO E O SONHO Reviewed by Natanael Lima Jr on 00:55 Rating: 5

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