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A Sociedade de Letras de Schiller




por Frederico Spencer*











 Imagem: Reprodução
La Libertà che guida il popolo
Eugène Delacroix (1830)




Friedrich Schiller, retrato de
Ludovike Simanoviz (1794)



Foi em resposta ao racionalismo exacerbado, apregoado pelo iluminismo, movimento cultural fundado pela elite de intelectuais do século XVII na Europa, que os poetas Schiller e Goethe, fundaram o movimento literário romântico Sturm und Drang (1760/1780), na tentativa de trazer ao povo alemão uma nova formação, que libertasse o homem das amarras de um pensamento lógico-formal e que o reintegrasse à natureza.

Foi estudando a Grécia antiga, berço da cultura ocidental e de uma prática democrática avançada, que Schiller encontrou as bases filosóficas para a estruturação de uma produção artística. A postulação grega, tendo por objetivo o realismo, se baseava na beleza estética, procurando exaltar a beleza humana, através de suas formas, por acreditarem na semelhança entre os homens e os deuses. Assim, os gregos construíram uma sociedade democrática que se destacou por sua cultura refinada e pelo seu poder de influência que contaminou todo o ocidente.

Para Schiller, a modernidade trazida pela proposta iluminista, que preconizava o poder da razão sobre todas as coisas, separou o homem da natureza, fragmentando-o, tornando-o um ser mecânico, dissociado de suas questões existenciais. O homem moderno é um ser cindido. Vivenciando sua fragmentação perde o senso ético, afastado que está de seu self, de sua cultura.

Em sua proposta Schiller trazia a arte como um ideal pedagógico, entendendo seu poder de fazer a união entre razão e sensibilidade. A arte na prática leva o artista e o espectador a outro nível de entendimento de mundo. O artista em seu trabalho usa a razão e a intuição para expressar em sua obra novas significações do mundo e o espectador, resignifica essas mensagens através da razão e de sua espiritualidade. Tal movimento impõe a ambos o equilíbrio de suas forças psíquicas, fundamento necessário para o crescimento psicológico para a formação do ser social.

Schiller tinha como intenção unir sensibilidade, razão e ética, como projeto integralizador da alma humana, tendo como efeito a criação das bases de uma sociedade justa e democrática através da produção de uma arte integralizadora que unisse homem e natureza para a construção do todo social.

A produção artística é parte do legado histórico e cultural de uma sociedade. O imaginário coletivo constitui a espécie humana e individualiza cada ser social, refere-se à capacidade da mente criar representações dos objetos recriando o mundo exterior, é a forma como o homem interfere em sua realidade, transformando-a.


*Frederico Spencer é poeta, sociólogo e psicopedagogo






POEMAS DE NATANAEL LIMA JR, ANTONIO DE CAMPOS, LUIZ ALBERTO MACHADO, ANDERSON PAES BARRETTO E JOSÉ TERRA



 Imagem: Reprodução




Metáfora*
Natanael Lima Jr


O poeta excita
o orgasmo da manhã
e transa com a terra
e o manguezal.

O poeta traça a sua sina
e provoca alterações
no curso provinciano das águas.

O poeta é que põe
o sonho em transe.

*do Livro “À espera do último girassol & outros poemas” (2011)




Três Marias com ideologia
Antonio de Campos*

                          
                poema escrito em  1995, que começou a ser
               cumprido treze anos depois, com a Crise de 2008   


Estrela à destra, refinada e culta,
ocupada com incensos
e de costas à fumaça das chaminés

Calma senhora de mãos postas
em prece a outra também Senhora
de carpinteiro mãe e mulher
a proletários à noite rezais
e durante o dia os desprezais
rogai por vossos pecados agora
e na hora de vossa morte ainda mais

Estrela à esquerda, negadora
eterna do Absoluto, da Rosa vês
a matéria, não seu contorno exato –
sem solda, sua rubra fuselagem
à haste pousada e a doação do aroma
trazido pra galanteio dos amantes,
instintiva sedução às donzelas
e trabalho às abelhas-operárias

De tudo o que a Rosa abarca –
sonho e símbolo, apenas enxergas
a exploração pelas abelhas
da Rosa cujo mistério negas

Estrela Central, Mediana Pastora,
Diana-Isadora em palco no espaço,
cantando – solta no céu –
a jornada sem fim, sonho contigo
preso ao Jardim!

*Antonio de Campos é poeta pernambucano



Prelúdio
Luiz Alberto Machado*



Foi por viver intensamente
Que amei esta carne
E a fisionomia secreta dos seres
Foi por amar a vida
Que beijei o ventre

E colhi o sonho do sol
Para proteger o homem e a natureza
Foi por ter submetido o coração ao amor
Que submergi nos olhos
No calor vivo das emoções
Sem haver negado qualquer alegria
Nem mesmo projetado qualquer mentira
E foi justamente por ter amado
Que acalentei a dor e a solidão
E renasci eternamente menino.

*Luiz Alberto Machado é poeta, escritor, compositor e radialista pernambucano, editor
Do Guia de Poesia do Projeto SobreSites. Parte da sua produção está reunida na sua home www.luizalbertomachado.com.br


Cuspida
Anderson Paes Barretto*



Não cuspa em mim a sua culpa
Vá cuspir no chão essa desculpa
Culpe a si mesmo e para cima então cuspa
Quem sabe a culpa cai na sua testa
Não faça festa com seu vil teste

E pare de cuspir no meu texto
Não quero pretexto nem mais desculpas
Engula a culpa e poupe-me do cuspe
Enojo-me da tua desculpa
E engulo meu próprio susto
Mas não se assuste nem me dê as costas
Vergonha é não ter a alma despida
E não há mais custo para tantas cuspidas
Resta apenas a culpa na sua cara esculpida


*Anderson Paes Barretto é jornalista, poeta, escritor e edita o blog Multipersonalismo




Canção proibida
José Terra*



Quando o carnaval chegou
A poesia se despiu por inteiro:
Enamoraram-se
José, torcedor do Santa Cruz e morador da Linha do Tiro
E Maria, torcedora do Barcelona, mais bonita da Catalunha

E musa de todos os poetas da Espanha.

No carnaval pernambucano,
José cravou em Maria o seu lirismo de Adão pernambucano.

Maria, como toda Divina Dama,
Inscreveu seu amado na mansão celestial
E comeu seu corpo negro com frevos de Capiba.

Quando tudo parecia se divinar,
O sentimento dos amantes não podia mais existir

Morreram de câncer
Juan Pedro Hernandez, homem ideal de Barcelona
E Chiquinha, a bela-feia do Ibura.


*José Terra é poeta e edita o blog http://joseterra-blogdepoesia.blogspot.com.br




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